Franquia para casais – Consultoria Novoa Prado dá o caminho das pedras

Casais que escolheram as franquias para empreender juntos contam suas estratégias de sucesso. Consultores dão as dicas para não deixar azedar nenhuma das relações

Enquanto alguns casais não conseguem nem imaginar a possibilidade de trabalhar juntos, muito menos estar à frente do mesmo negócio, outros encontram na dinâmica da relação a dois e na combinação de talentos e gostos, que podem até ser distintos, ingredientes preciosos para impulsioná-los ao sucesso. É o caso de marido e mulher que decidem empreender juntos e elegem abrir uma franquia, um tipo de negócio que, pelas próprias características, seduz com a segurança de um casamento perfeito, entre o knowhow (do franqueador) e o perfil (do franqueado).

Mas, como em qualquer outro negócio, não existe fórmula garantida de sucesso com franquias. Marido e mulher, por mais “casal 20″ que sejam, devem estar preparados tanto para o fracasso, quanto para o sucesso. A relação pode azedar caso a franquia não decole, o que é compreensível, e é mais fácil para o casal se precaver contra essa possibilidade tendo um plano B na manga. O que poucos conseguem antever é que o sucesso estrondoso nos negócios também pode custar o fim do casamento. O equilíbrio, portanto, deve ser perfeito, porque são as mesmas pessoas no comando em casa e nos negócios. É bom que o capital emocional do casal esteja no azul, ele pode ser mais valioso que o dinheiro em espécie.

Franquias a dois

Uma das principais vantagens das franquias para os casais é que o negócio tem mais chances de dar dar certo. “A taxa de fechamento de franquias varia entre 1% e 2% ao ano, enquanto que, em outros tipos de negócios, essa taxa fica em 22%”, diz Ricardo Camargo, diretor executivo da Associação Brasileira de Franchising (ABF). “As linhas de financiamento também são muito mais disponíveis e têm juros inferiores aos demais praticados no mercado, até pelo baixo risco do negócio”, continua Camargo.

“O casal também terá suporte do franqueador para abrir o negócio e o processo é muito mais ágil, não tem toda a burocracia de outros tipos de negócio próprio”, assinala o diretor da ABF. “Só aí já tem um ganho de capital considerável”. A escolha do ponto comercial mais adequado ao negócio será feita com ajuda do franqueador, que também já possui um marketing robusto e toda uma estrutura de treinamento. Tudo isso diminui consideravelmente os riscos do casal empreendedor que escolhe as franquias.

Como os dois estão à frente da franquia e o sucesso é compartilhado, também não há desigualdades de carreira ou salariais para colocar um elefante branco no meio da sala do casal. “A divisão do sucesso, que é dos dois, ajuda o negócio a crescer muito e ainda favorece a relação”, comenta Camargo.

Segundo o diretor da ABF, grande parte dos casais à frente de uma franquia possui mais de uma unidade. “Sinal de que o negócio administrado a dois vai bem”, assinala. Quando o marido ou a mulher começa só, é comum que o outro cônjuge acabe se envolvendo ou deixe o emprego para embarcar de vez na franquia. E há também os casais que continuam em seus empregos ao mesmo tempo em que se tornam empreendedores no setor de franquias.

Cada um na sua

Seja qual for a situação, as tarefas devem ser bem divididas para que um não interfira na seara do outro e não haja conflitos entre as responsabilidades de cada um. “Às vezes, esses conflitos não chegam ao franqueador a tempo e isso pode ameaçar o sucesso da franquia”, adverte Cristina de Paula, especialista em franquias e varejo da Novoa Prado Consultoria.

A divisão de tarefas não causou problemas para o casal Nanci e Cláudio Miranda, embora ambos sejam contadores. “Eu cuido mais da parte administrativa. Ele, de operacional e equipe”, conta Nanci. “Eu me identifico muito com a área e gosto de lidar com investimentos”.

Nanci e Cláudio são donos de duas franquias da MegaMatte no Rio de Janeiro. Ela começou o negócio e ele embarcou depois — o marido ainda mantém outro emprego como contador. Para Nanci, as franquias melhoraram a vida do casal e a parceria também trouxe benefícios para os negócios: “É bom dividir o trabalho com quem você tem intimidade, temos uma liberdade grande para conversar”.

A enfermeira Clarísia Gusmão Tigre e o bioquímico Gildásio Cairo Neto continuam trabalhando em suas profissões e têm um bebê na família. Mas é justamente o fato de tocarem uma franquia a dois que permite ao casal ter sucesso na Prima Clean que possuem em Vitória da Conquista, na Bahia.

“Só dá certo porque estamos os dois juntos. Claro que, para o negócio prosperar, temos de nos fazer presentes, mas a tecnologia ajuda. Sabemos que nossa função é gerenciar e ter uma equipe confiável é fundamental. Não adianta querer fazer tudo, tem que fazer bem-feito, otimizando o tempo”, ensina Gildásio. “O profissionalismo independe de sermos casados. Mas o afeto que nos une faz com que o negócio tenha mais sucesso”.

Papéis em seu lugar

Além de áreas de comando bem demarcadas na franquia, o casal também deve fazer o que o diretor do Instiad, Luiz Cláudio Binato, chama de “plano de papéis”. O seleto ingrediente preventivo pode evitar que marido e mulher sofram uma espécie de efeito rebote por causa do sucesso financeiro do casal. Se o casal estiver ciente dos seus papéis e responsabilidades, vai ser mais difícil chegar a uma situação em que os negócios vão bem, mas o casamento vai mal — e, se acontecer, pode evitar que o casal coloque a franquia em risco.

“Homem e mulher desempenham vários papéis. A mulher é mãe, esposa, sócia e executiva. O homem é pai, marido, sócio e executivo. Então, proponho aos casais que, além de terem um plano de negócios, tenham um plano de papéis, saibam que papéis eles desempenham, porque os comportamentos, crenças e valores tendem a ser diferentes no desempenho desses papéis”, explica Binato.

“É muito comum as pessoas trocarem os papéis, pensar como pai na empresa ou agir como marido no ambiente de negócios, e é isso que deteriora as relações”, ressalta o estrategista em negócios. “Mas se o casal se antecipa com um plano de papéis e souber as responsabilidades esperadas de cada um, fica mais difícil de as relações se deteriorarem”.

Segundo Binato, se o casamento, seja por que motivo for, estiver passando por problemas, eles não vão afetar tão drasticamente os negócios do casal se cada um tiver ciência de seus papéis na franquia: “Conheço casais que se separaram, mas mantiveram a sociedade porque os negócios iam bem, e depois acabaram até reatando”.

Equilíbrio e flexibilidade

O sucesso do casal Fernando Bamberg e Laura Milano demonstra que eles têm habilidade ímpar para separar as expectativas e responsabilidades em casa e nos negócios. Nas franquias da Trópico, marca de surfwear, que possuem no Rio Grande do Sul, eles também se dedicam a áreas distintas. “Ela cuida de Recursos Humanos e contas a pagar e receber. Eu cuido da parte operacional e estratégica do negócio”, conta Fernando.

Laura e Fernando decidiram empreender juntos quando ela engravidou do primeiro bebê do casal. Ambos tinham carreiras e empregos estáveis. Ela, em um grande banco. Ele, em uma grande rede varejista. “A gente queria algo flexível para ter mais tempo com o bebê”, lembra Fernando. O negócio deu tão certo que no curto espaço de um ano eles já tinham quatro unidades de franquia da Trópico.

Um mês depois que abriram a primeira loja, na cidade de Canoas, nasceu o bebê. Naquele mesmo mês, dezembro de 2010, abriram a segunda franquia, em São Leopoldo, ao surgir uma boa oportunidade de compra. Laura estava de licença maternidade e ele ainda mantinha seu emprego. Em fevereiro de 2011, ambos decidiram pedir demissão para se dedicar em tempo integral às franquias. Em abril e dezembro, abriram as outras duas lojas, em Torres e Novo Hamburgo.

“Já tínhamos um planejamento financeiro muito seguro para abrir uma loja”, lembra Fernando. “Mas a gente se identificou muito com o franqueador e o modelo de negócios e, em pouco tempo, vimos que tinha ganhos”. Fernando ressalta que o casal foi motivado a expandir os negócios em tão pouco tempo pela identificação com a marca e boas oportunidades de compra e de ganhos. Tanto que não hesitou em ir atrás de recursos para financiar essa expansão. Em casa, a família também aumentou com a chegada do segundo bebê.

“Temos 18 funcionários. Nós trabalhamos mais agora, só que trabalhamos como e quando a gente quer”, conta Fernando. “Consigo flexibilizar minha dedicação aos negócios de acordo com as necessidades pessoais. A família vem em primeiro lugar e o trabalho é o nosso suporte para a gente ter a vida que sempre quisemos ter”, comemora. “Pego meu filho na escola, posso planejar uma viagem com a família toda fora de temporada. Esse é o ganho principal, a qualidade de vida, de modo que fique bom para a gente e para o negócio”.

Sinergia e conflitos

A consultora da Novoa Prado explica que não é o sistema de franchising em si que faz o sucesso do negócio quando marido e mulher estão no comando, mas, sim, como a dinâmica do casal contribui para impulsioná-lo, uma combinação que deu mais do que certo no caso de Laura e Fernando, que conseguem conciliar as responsabilidades de uma jovem família com os novos negócios em expansão.

“Não adianta um ter o perfil adequado para a franquia e o outro não, e isso já vai aparecer na hora de passar pelo processo de seleção do franqueador. Ambos têm que ter uma sinergia e habilidades que se complementam, até para poderem trabalhar bem juntos”, diz Cristina. “É a sinergia no trabalho e o profissionalismo dos dois que vão alavancar a franquia”.

Mesmo com uma boa dinâmica nos negócios, nenhum casal está imune às divergências só porque está vestindo seus “trajes business”. Em casa, as decisões podem até ser mais passionais e emocionais. Já nos negócios, marido e mulher terão de solucionar impasses sem prejudicar a franquia e sem que um fique de cara amarrada com o outro pelo resto da semana.

“A principal dificuldade é a relação marido e mulher, de confronto de duas áreas, de duas pessoas diferentes”, atesta Fernando. “Quero contratar mais gente e o RH, que é minha mulher, não deixa. Isso pode ser levado para casa depois do expediente”, comenta. “Mesmo assim, a gente gerencia esses conflitos, aí entra o consenso, porque nós dois já convivemos há muito tempo e o objetivo é um só, o sucesso da empresa”.

“Pontos de vista distintos sobre qualquer assunto acontecem em qualquer empresa”, comenta a especialista da Novoa Prado. “O casal tem que ter discernimento para agir em favor da franquia, pensando no que é melhor para os negócios”, ressalta Cristina. “Tem que deixar o orgulho de marido e mulher de lado e favorecer sempre o negócio”.

Camargo concorda, e ressalta a ideia do sucesso compartilhado para ajudar o casal a manter o foco no benefício mútuo e não pensar no individual na hora de tomar decisões de negócios. “Discussões entre sócios são normais. Mas se a mulher é ciumenta e o marido é responsável pela contratação, pode provocar uma briga de casal”, comenta o diretor da ABF. “O casal tem que ter ciência que tem de administrar essas relações em favor do sucesso do negócio”.

Caio de Almeida Cunha é master-franqueado Brasil da WSI. Ele e a mulher, Ana Luiza, apostaram na parceria para empreender no setor de franquias no retorno ao País, depois de três anos nos Estados Unidos. “Mesmo que, às vezes, tenhamos opiniões diferentes sobre o negócio, chegamos sempre a um denominador comum”, conta Ana Luiza. “A grande vantagem de trabalhar com o marido é a confiança mútua que temos. É poder ser 100% aberta com o outro, sem medo de ser mal-interpretada”.

Finanças

Outro ponto importante, observa Cristina, é separar as finanças pessoais das finanças da empresa. “Em qualquer franquia, o franqueado tem o hábito de misturar as contas da pessoa física com as da pessoa jurídica e isso não é uma cultura bacana para os negócios, tem que separar e administrar isoladamente”, orienta a consultora.

Essa demarcação é ainda mais fundamental para o casal empreendedor, porque a franquia será sua única fonte de renda. “Se a franquia não engrenar no prazo que eles esperam, vai faltar dinheiro dentro de casa”, ressalta Cristina. “Por isso, o casal tem que demarcar as finanças e ter uma reserva para as contas pessoais e outra para o capital de giro da franquia”.

Ter essa disciplina é tão importante quanto a confiança que um deposita no outro quando o assunto é dinheiro. Grande parte dos casais se sente mais seguro sabendo que é o marido ou a mulher quem está cuidando do dinheiro, mas não se pode misturar os desejos do casal com as necessidades do negócio e colocar tudo na mesma conta. Tudo a seu tempo, recomendam os especialistas, até que o investimento comece a ter retorno.

O mesmo horizonte

Assim como a vida conjugal não deve interferir na empresa, também os negócios não devem invadir a vida do casal. A tentação de trabalhar além da conta, principalmente no início da franquia, pode ser grande, mas deve ser evitada para não atrapalhar a relação. É claro que, como casal, nada impede que levem assuntos do trabalho para casa, desde que não passem da medida — se a vida íntima ou o lazer dos filhos começarem a sofrer, é um bom sinal para pisar no freio.

“Ser casado e trabalhar junto é como se dois gerentes convivessem 24 horas por dia falando do negócio”, conta Fernando. “Temos que nos policiar para não falar só sobre trabalho. Então, a gente estabelece um limite como em um emprego normal, às vezes até um pouco mais tarde porque estamos trabalhando para nós mesmos”.

Embora consigam equilibrar tão bem as franquias e a vida pessoal, Fernando e Laura admitem o receio de que os negócios possam predominar sobre a vida pessoal do casal. Mas também lidam com essa possibilidade de forma bem prática. “A gente prometeu tratar do negócio como um meio para atingir objetivos pessoais, estando presente para os filhos e mantendo nosso padrão de vida”, explica Fernando. “E se eu tenho carga horário para o chefe, tenho que ter para mim mesmo”.

Felizes nos negócios e no amor, o casal gaúcho celebra os frutos da dupla parceria. “O fato de administrarmos as franquias a dois é um dos fatores de sucesso porque nosso objetivo é o mesmo: ter resultado financeiro com a qualidade de vida que a gente buscava”.

Via Site Franquia Ideal

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